Da ligação existencial entre a catástrofe e a tragédia On the Existential Link of Catastrophe and Tragedy

Abstract

A tese principal deste artigo está exposta no seu próprio título. Para prová-la, será necessário eliminar o habitual significado negativo ou até melodramático dos dois conceitos que aí figuram e tomá-los ao invés como os dois extremos do processo dialéctico de redefinição da consciência sociopessoal. Deste modo, qualquer catástrofe, devido a um factor natural ou humano, implica a ruptura violenta das condições normais de existência, cujas consequências directas cada um deve compreender e superar nas tríplice determinação ontológica, social e psicológica do si próprio (self). Por sua vez, a tragédia representa a fase de integração crítica e reflexiva que se segue à catástrofe, a qual vai muito além da negatividade pura da dor e mesmo da morte. Porque mesmo que morram a pessoa ou as pessoas levadas pela catástrofe, outros poderão tirar o máximo partido disso e a consciência sociopessoal será rearticulada. Claro que isto implica que o si-próprio em questão não é apenas individual, mas que outros elementos do mundo da vida deverão ser considerados para que o fenómeno, para além de qualquer abordagem prévia, revele um novo ou até crítico sentido da existência. Assim, embora ao longo de toda a sua existência exista uma negatividade inegável, é visado um nível mais profundo de compreensão da existência, o que implica afinal que a catástrofe seja contextualizada num quadro cultural concreto e não apenas como súbita perturbação e que a tragédia seja, assim, concebida como um instrumento filosófico mais do que como um género literário que lida com a crueldade do destino. Para alcançar os seus objectivos, o artigo está dividido em três secções de extensão variável: na primeira será analisada a experiência e o sentido da catástrofe; na segunda, a da tragédia e na terceira, será brevemente mostrado por que é que a compreensão do nexo de ambos os fenómenos é crucial para a dinâmica intelectual actual.

Palavras-chave: violência, finitude, situação, consciência, dialéctica.