Orações interrogativas com qual: análise gramatical e variação português europeu / português brasileiro
Resumo
Este artigo discute a distribuição do morfema interrogativo qual em interrogativas diretas e indiretas, considerando quatro grandes tipos de contextos sintáticos: predicações equativas (qual [ser SN]), construções partitivas (qual de SN), construções com qual adnominal (qual N¢) e construções com qual associado a formas nominais nulas (qual []N¢/deSN]). Avalia-se, a partir de dados de extensos corpora de texto jornalístico, a prevalência de cada contexto e de fenómenos gramaticais suplementares, como o truncamento de toda a frase após o constituinte interrogativo (sluicing), a inserção de é que e a omissão do segundo SN em construções equativas. Exploram-se ainda, com algum pormenor, aspetos da variação português europeu (PE) / português brasileiro (PB), que envolvem essencialmente o uso de qual adnominal, forma muito frequente em PB, mas quase residual em PE, a não ser em interrogativas diretas superficialmente coincidentes com o constituinte interrogativo. É ainda avaliado o papel de três fatores que parecem favorecer o uso de qual adnominal em PE contemporâneo: a presença de preposições no constituinte interrogativo, a explicitação de alternativas de resposta e o estabelecimento de ligações anafóricas a expressões nominais precedentes. Nas análises, têm-se em conta, suplementarmente, dados de texto literário português dos séculos XVI a XX. É ainda brevemente avaliada a competição entre as formas equivalentes qual N¢ e que N¢ em português brasileiro.
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